segunda-feira, 5 de novembro de 2007

À caça de um 'faz-tudo', mercado muda nome de profissões famosas

Rachel Silva
rsilva@redegazeta.com.br

Você sabe explicar o que faz um profissional de "key account"? E um "hair designer"? Profissões tradicionais como as de vendedor e cabeleireiro vêm ganhando novos nomes, por razões diversas.

Há quem chame a empregada doméstica de "secretária", o que pode ser um jeito simpático de valorizar essas profissionais, embora as tarefas continuem sendo as mesmas: limpar, lavar, cozinhar e passar.

Por outro lado, há profissões em que o nome muda porque as atribuições são diferentes. Na era da Internet, não é de se estranhar que o bibliotecário passe a ser chamado de "gerente de informações", uma vez que a maioria das empresas possui, hoje, um acervo de documentos e informações que não estão impressas em papel.

Um outro exemplo é a profissão de contador que, antes de ser regulamentada por lei, era chamava de "guarda-livros". Hoje, o termo "contabilista" pode ser usado para profissionais de nível técnico ou superior, mas a categoria tem preferido o título de "profissional da contabilidade". Outros nomes, como auditor, perito ou analista, são utilizados pelos profissionais da Contabilidade que passam por cursos de especialização.

"Eu entendo que a evolução da língua e da própria profissão obriga a encontrar um termo mais adequado para descrever as atividades desenvolvidas", afirma o presidente do Conselho Regional de Contabilidade (CRC-ES), Paulo Vieira Pinto.

Demanda. Mesmo que as funções continuem as de sempre, as exigências do mercado tendem a aumentar. De acordo com a consultora Maria Rita Sales, da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-ES), espera-se dos profissionais uma postura de comprometimento cada vez maior com os resultados da empresa.

"Hoje o profissional, além de elaborar, precisa apresentar, prospectar, avaliar e gerar lucros, isso em todas as profissões. Uma telefonista não deve apenas receber as chamadas de clientes e fornecedores, ela também apresentará em primeira mão a imagem da empresa, fará a abordagem e dará a deixa para o setor comercial alavancar as vendas", explica.

O diretor regional do grupo Catho, Elias Gomes, afirma que a mudança do nomes das profissões quase sempre está relacionada ao aperfeiçoamento da estrutura de gestão das empresas.

"Também há o caso de profissões que não fazem mais sentido, como gerente de informática. Gerente de Tecnologias da Informação é mais abrangente. É claro que, às vezes, a mudança de nome é só para dar um status, mas o profissional não tem a remuneração condizente", diz.

Para quem está em busca de um emprego, essa profusão de nomes pode tornar mais difícil a elaboração do currículo. Como "vender" sua imagem, sem correr o risco de não ser compreendido? Para Elias Gomes, a solução é não se descrever usando o nome do cargo, que, às vezes, não explica bem a função.

Ela é pau-para-toda-obra

Fernanda Soares, 25 anos, secretária executiva

Fernanda Soares tem orgulho em afirmar que é secretária executiva. "A gente fica bem indignada quando é confundida com doméstica, sem querer menosprezar a profissão. Algumas pessoas também confundem o curso com telefonista ou recepcionista", diz. Além de ser professora do curso de Secretariado Executivo do Cesat, Fernanda também é a secretária geral da faculdade. Ela explica que a profissão é regulamentada por lei, há cerca de dez anos, mas que só recentemente as pessoas têm entendido melhor quais são as atribuições de uma secretária – muito além de atender aos telefonemas e de servir cafezinho.

ANÁLISE
Maria Rita Sales

Seja versátil

A s mudanças são fruto de nossas atuais necessidades. Historicamente as pessoas precisam de mudanças, de novidades. No âmbito profissional existem algumas razões relevantes, tais como: novos conhecimentos, evolução da internética, capacidades tecnológicas ampliadas, pela natureza da função que se torna mais complexa e – não deixaria de mencionar – para facilitar a adequação aos regulamentos impostos, exigências da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), da legislação e das premissas da qualidade/certificações a que todas as empresas estão sujeitadas. O novo nome busca melhor traduzir a atual realidade na área. Na área de informática ocorre em função da associação de várias habilidades inclusive as tecnológicas, artísticas e criativas. Conheço algumas empresas que possuem vendedores de segunda categoria, pequenos em visão, mas que têm título no cartão de Gerente de Negócios. Suponho que seja para "melhorar" a prospecção da própria pessoa. O que não adianta muito, não é? O mundo requer dos profissionais maior versatilidade, com background em tecnologia e conhecendo a área de negócio profundamente, além da sintonia com o foco da empresa. Um outro diferencial requerido é a capacidade de estabelecer relações muito boas dentro e fora da empresa.

Quem batalha no mercado deve utilizar o que conhece e não a moda. O selecionador saberá, com certeza, adequar o material à demanda da empresa.

Maria Rita Sales Conselheira da Associação Brasileira de Recursos Humanos – Seccional Espírito Santo (ABRH-ES)

"Na maioria dos casos, o melhor é não optar por dizer o seu cargo, mas descrever a área, como exemplo "gestão financeira". Durante a análise curricular, o selecionador, certamente, vai identificar o nível desse profissional, pelo conjunto das informações contidas no currículo", ensina.

Fonte: A Gazeta
http://gazetaonline.globo.com

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