terça-feira, 2 de outubro de 2007

Brasil ajuda a criar 1ª biblioteca digital mundial


Unesco lança neste mês protótipo do portal na internet; Biblioteca Nacional, do governo, faz parte do projeto

Roberta Pennafort

Na Antiguidade, a Biblioteca de Alexandria, no Egito, com suas centenas de milhares de papiros, era a guardiã do maior acervo cultural e científico do mundo. Inaugurada em 295 a.C., foi destruída pelo fogo em 272 d.C. por ordem do imperador romano Aureliano.

Na era digital, um projeto da Unesco, a World Digital Library (Biblioteca Digital Mundial), cujo protótipo entra no ar neste mês, tornará tesouros de vários países disponíveis gratuitamente na internet. O portal da WDL terá, na primeira fase, mapas, fotografias e manuscritos digitalizados, tudo com textos explicativos em árabe, chinês, espanhol, inglês, francês, português e russo. Numa segunda fase, será possível consultar livros. Os usuários poderão pesquisar temas como filosofia, história, religião e ciência.

Grandes bibliotecas estão sendo convocadas a colaborar - e a Biblioteca Nacional foi uma das primeiras a aceitar. Já enviou reproduções de mapas e registros fotográficos raros do País no século 19. Oitava maior do planeta e a número um da América Latina, a instituição é parceira-fundadora ao lado das Bibliotecas do Congresso dos EUA, da Rússia, da Coréia do Sul e da Bibliotheca Alexandrina, inaugurada em 2002.

Além de dar acesso a imagens, espera-se do Brasil o cumprimento de uma missão importante: atrair países de língua portuguesa e também de língua espanhola para a empreitada.

PRIMEIRO TESTE

Um protótipo da WDL vai funcionar a partir do dia 17, na 37ª Conferência-Geral da Unesco, em Paris. Será uma oportunidade para mais países aderirem - e para o Brasil fazer sua campanha com os vizinhos latinos e com as nações de língua portuguesa. “A Biblioteca Nacional é a única da América Latina que está participando. Vamos entrar em contato com os países da região, começando por Argentina, Venezuela e Colômbia”, afirma o presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Muniz Sodré.

A Biblioteca Nacional é considerada um modelo para países emergentes por seu bom padrão de digitalização - o processo de transferir obras para o computador foi iniciado em 2003 e intensificado em 2006. “O nível brasileiro é muito bom”, elogia John Van Oudenaren, coordenador do projeto da Unesco. “Se a Biblioteca Nacional compartilhar o que tem aprendido com bibliotecas de outros países, será um grande passo para aumentar a participação. Não faz sentido fazermos acordos com instituições que não têm capacidade de digitalização.”

Os mais de mil itens que a Biblioteca Nacional vai compartilhar na WDL compõem conjuntos dos mais representativos das Américas. São fotografias do século 19 que fazem parte da coleção Teresa Cristina Maria - doada por d. Pedro II em 1891 e considerada pela Unesco patrimônio da humanidade -, em que se vêem paisagens do Rio, Paraná e Minas. Há também mapas e cartas náuticas dos séculos 16, 17 e 18.

“A idéia é fazer um grande portal da cultura no mundo. Cada país está mandando o que tem de mais precioso”, explica Liana Gomes Amadeo, diretora do Centro de Processos Técnicos da Biblioteca Nacional. Mais detalhes sobre o projeto, cujo investimento não foi divulgado, estão no site www.worlddigitallibrary.org.

O maior acervo digital do mundo, hoje, é o da Biblioteca do Congresso Americano (www.loc.gov), iniciado em 1995, com mais de 7,5 milhões de documentos.

Fonte: O Estado de São Paulo